Delegacia de Atendimento ao Idoso, no centro da capital (Foto: Daniel Teixeira/AE)
A cada quatro dias chega ao conhecimento da Polícia Civil da capital uma queixa de idoso que foi roubado por um parente ou conhecido. Os casos em que pessoas da terceira idade tiveram o cartão bancário tomado ou um empréstimo contraído indevidamente por um familiar lideram o ranking de crimes contra idosos na cidade de São Paulo no primeiro semestre deste ano. Dos 180 registros policiais feitos por idosos no município, 43 se referiam a crimes dessa natureza. Os números podem ser ainda maiores, pois há quem prefira não levar a história à polícia.
Em segundo lugar nas estatísticas de crimes contra pessoas com mais de 65 anos aparecem discussões e xingamentos, com 41 casos, seguidos de agressões físicas (35). Os demais estão relacionados a abandono, maus-tratos, discriminação e má qualidade no atendimento clínico, hospitalar e de planos de saúde.
A pensionista C.B., de 68 anos, não teve medo na hora de denunciar a filha, que, segundo ela, a deixou “na miséria”. C. afirma que, há cerca de dois anos, quando seu marido ainda era vivo, a filha, casada, ligava ameaçando se matar caso os pais não emprestassem dinheiro. “Tivemos que vender a nossa casa para ajudar. Não sei onde gasta tanto. Ela dá uma de rica por aí”, acusa a pensionista.
Atualmente, C. vive numa casa de um cômodo e toma antidepressivos fornecidos pelo governo. O imóvel foi cedido pela filha. Mas, segundo a pensionista, está no nome de outra pessoa. “Meu genro liga todo dia para saber se eu ainda não morri para desocupar a casa”, lamenta C. O desespero faz parte da vida da idosa. “Tenho ido a delegacias para pedir garantia de que vou poder ficar aqui na casa, mas lá não registram isso.”
“A maior parte de extravios de cartões de banco tem a ver com filhos e netos”, diz o presidente do Conselho Municipal do Idoso, Marcel Thomé, de 73 anos. Ele afirma que há alguns anos parentes se apoderavam até do cartão de ônibus do idoso. “Agora, a Prefeitura modificou. O cartão é diferenciado. Mas tinha parente que andava com o cartão do transporte para lá e para cá.”
De acordo com Thomé, idosos ficam com medo de não serem mais visitados pela família e evitam fazer queixas. “É difícil denunciar o próprio filho”, comenta. O Conselho Municipal registra de 20 a 30 denúncias de maus-tratos por dia, média de uma ligação por hora. No fim do mês são mais de 800 casos. “O que tem bastante são maus-tratos em asilos”, diz. “E quando são questões de dinheiro pego indevidamente, temos de encaminhar isso para as delegacias.”
FIQUE ATENTO
- Normalmente, parentes dos idosos e até acompanhantes, como os chamados “cuidadores”, pegam cartões bancários e fazem saques em caixas eletrônicos
- O cartão de crédito também costuma ser usado. Alguns usam o dinheiro para comprar drogas, roupas e até para pagar contas pessoais
- Existem casos em que os próprios parentes também fazem empréstimos consignados em nome do idoso, utilizando documentos recolhidos na casa do velhinho e outros dados que permitem a transação
- Quem tem procuração dos idosos pode fazer movimentações bancárias sem que ele perceba que quantias são retiradas
- O Estatuto do Idoso, que entrou em vigor no dia 1º de janeiro de 2004, prevê que quem pratica alguma violência contra uma pessoa da terceira idade poderá pegar até quatro anos de prisão, se for condenado
FONTE ; Camilla Haddad
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