A calmaria até então presenciada pela reportagem e descrita por funcionários do Presídio Militar Romão Gomes, a prisão da Polícia Militar, foi interrompida por uma movimentação de ambulância e de pessoas nos fundos do complexo. “Ele vai demorar um pouco mais”, explica uma policial, referindo-se ao psicólogo forense Christian Costa, o entrevistado.
A espera foi justificada: Christian precisou negociar por 20 minutos a rendição de um interno que, após quebrar a cela e fazer do estrado da cama uma lança, ameaçava se cortar, caso não conseguisse telefonar para a filha, que estaria com uma doença grave. Nos últimos quatro anos, esse teria sido apenas o segundo caso de “crise nervosa” no presídio, uma situação rara, mas que não está descartada de acontecer no expediente de Christian, o único psicólogo do lugar.
Amazonense de 35 anos, ele é formado em Filosofia e Psicologia, com especialização em terapia cognitiva. Foi franciscano durante quatro anos e pretendia ser padre. Toca violão nas horas vagas, atualmente defende uma tese de doutorado sobre maturidade criminal e, há oito anos, é o responsável pela divisão dos internos de acordo com o perfil psicológico – tanto nas celas quanto nas oficinas do presídio, localizado no Tucuruvi, na zona norte.
Christian acumula também uma lista de atendimentos a criminosos bem distante do mundo da corporação. Diz ter analisado comportamentos como o de Maurício Norambuena, preso no Brasil em 2002 pelo sequestro do publicitário Washington Olivetto, o de Marcinho VP, que estaria ligado ao Comando Vermelho do Rio de Janeiro, e do traficante Juan Carlos Abadía.
Segundo o psicólogo, no caso do Romão Gomes, os internos estão separados por grau de maturidade criminal: existem os criminosos ocasionais, que não apresentam risco e não têm histórico de violência; e os antissociais – reincidentes e que necessitam de cuidados. Na prática, são feitas avaliações do histórico de vida da pessoa, do jeito de agir e do grau de reincidência. “A partir disso, vou avaliar o ocasional, até o antissocial”, afirma.
“No começo, muitos achavam que era uma segregação, mas muito pelo contrário. Isso é respeitar a individualidade do interno para ele poder desenvolver a vida aqui dentro”, conta. Para ele, dentro dessas divisões estão três itens fundamentais: direitos humanos, respeito e ética. Mesmo após as análises a que são submetidos ao chegarem à prisão, os PMs passam por atendimento clínico semanal. Para acalmar a sessão, são tocadas músicas clássicas. Chopin e Mozart estão entre os CDs.
Quando não estão tomando sol ou no cárcere, os detentos têm a possibilidade de fazer diversas atividades, que também são aprovadas ou não pelo psicólogo. As mais conhecidas são as oficinas, onde são fabricadas casinhas de cachorro. Há também a horta, a fábrica de mel, pintura, artesanato, banda musical e criação de porcos, em uma minifazenda montada dentro do complexo.
Já para quem fica na padaria o ritmo é ainda mais acelerado. “São 150 pães por dia”, conta um interno, com a cabeça baixa. De lá, saem guloseimas para outros quartéis da PM, como o Choque, e até para uma creche da região. A reportagem apurou que o interno citado no começo do texto foi medicado e está sob observação. Ele passa bem.
FONTE : JT / AGENCIA ESTADO
REPORTAGEM : CAMILLA HADDAD
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