26 de jun. de 2011

Dulce ,a Faxineira que faz sucesso na novela da 7 da Globo

No começo do mês, na mesma semana em que recebeu o Grande Prêmio de Cinema como melhor atriz coadjuvante por Chico Xavier – O Filme, Cássia Kis Magro tornou-se, por assim dizer e por direito, protagonista de Morde & Assopra, a novela das 7 da Globo.


Foi o caso de Dulce, faxineira humilde que fez das tripas o coração para pagar a faculdade de Medicina do filho, Guilherme (Klebber Toledo), que levou a novela de Walcyr Carrasco a bater recorde de audiência (33 pontos) e, depois de um começo morno, causar comoção em todos os cantos.

No momento, repercute também a reprise de Vale Tudo no Canal Viva – mais de 20 anos depois, Leila, a personagem de Cássia, está prestes a ser revelada assassina de Odete Roitman (Beatriz Segall).

“Nunca revi a novela, e não tenho memória daquele tempo. Legal, foi bom fazer, matei a Odete Roitman, lembro que foi uma repercussão incrível, uma loucura. Mas não gosto de viver das coisas que já passaram. Meu negócio é farol alto, e para a frente”.

Elegância somada a um ar de certa intempestividade, o que dá um charme especial a qualquer mulher, Cássia sabe que não precisa recorrer à falsa modéstia para falar da carreira que, numa rápida digressão nesta entrevista, surpreende pela quantidade de papéis marcantes.

Basta ver que ela ainda estará no ar como a Dulce de Morde & Assopra quando a Leila de Vale Tudo deixar de existir no Viva (a novela termina no dia 15) e der lugar à reprimida e sonhadora Lulu de Roque Santeiro, outra de suas grandes personagens.

“Eu me divirto com o que está acontecendo (a repercussão da Dulce). Mas eu fiz personagens tanto ou muito mais interessantes do que a Dulce”, diz ela, para quem a grande dedicação que empenha numa personagem só pode ter bom resultado. “Quem pensa que é apenas decorar um texto, está enganado”.

Sem botox

Feia, desdentada e, enfim, pobre de marré deci, Dulce tem uma história de fazer chorar. Faxineira na fictícia cidade de Preciosa, ela é mãe de um belo moço, que até pouco tempo fingia ser médico – ela tinha orgulho dele e ele, vergonha dela.

Não é uma história original, mas é situação que não deixa ninguém indiferente. E como ficar indiferente a Cássia?
Para se transformar em Dulce, a atriz usa uma prótese que lhe estraga os dentes, e tem apenas uma saia e três blusas.

Não usa maquiagem e não se importa se a iluminação no estúdio vai ressaltar as linhas de expressão. “Eu sou uma atriz, não uma celebridade. E a celebridade tem outro compromisso, faz questão da capa de revista, de sair nas colunas, de estar sempre bonita e de dizer para o autor que ela quer fazer uma mulher bonita”, destaca ela.

“Esse não é o meu discurso, tanto que eu tenho a cara que eu tenho. Não fiz plástica e nem vou fazer. Mas devo fazer uma próxima novela na qual serei uma perua. E se eu fizer mesmo, vou colocar botox”.

Mãe de quatro filhos, ela mesma se identifica com a saga de Dulce para botar Guilherme no caminho certo – apesar de ter sido preso como falso médico, ele deve aprontar ainda mais. Mas, ao contrário da maioria dos telespectadores, que tendem a sentir pena, Cássia está mais interessada em escancarar a responsabilidade da personagem na formação do caráter do filho.

“Um filho pode levar uma mãe à loucura. Eles são cruéis, e sabem como fazer da mãe uma escrava. A gente escolhe o pior caminho para educar, lambe o filho o tempo todo, como se ele fosse um rei dentro de casa”, observa.

“Acho interessante que o Walcyr está fazendo a Dulce questionar onde ela errou. Esse filho é ruim? É. Mas e a mãe? Qual foi o papel dela nisso? É claro que ela quis dar para o filho o que ela não teve – 99% das mães erram assim”.

Além de ser grande personagem, Dulce é também mais uma mãe na carreira de Cássia, que há pouco era a Francisca, a mãe em espírito da novela Escrito nas Estrelas (2010), e antes foi a Mariana, mãe repressora de Paraíso (2009), e a Ana, mãe desesperada de Barriga de Aluguel (1990), entre tantas outras mães no teatro e no cinema.

Para a atriz, isso tem a ver com a sua idade – 55 anos, “idade de mãe”. “Acabei de receber uma peça do Zé Wilker para fazer uma mãe. E eu adoro, porque esse tema me interessa. Família, para mim, é tudo. Não existe assunto melhor”.

Dizer que família é tudo não é mera força de expressão. Com muita naturalidade ao falar da vida pessoal, Cássia fica com os olhos brilhando ao falar da rotina de casa.

Quem a acompanha desde os tempos em que ela causou frisson e virou modelo de mulher de coragem ao protagonizar uma campanha de prevenção contra o câncer de mama, com os seios de fora, em 1989, já deve ter reparado que o sonoro Cássia Kiss de antes, perdeu um “S” e recebeu um “Magro”, sobrenome do psicanalista João Magro Filho, seu marido há 3 anos.

“Eu tinha de adotar o nome dele. Foi uma homenagem e ele ficou muito orgulhoso no dia em que fiz isso”, diz ela, para deixar a meia dúzia de mulheres que ouvem a conversa nas nuvens, ao contar como a vida pode ser maravilhosa, feito aquela música que ela chegou a cantar com Ivan Lins. “Eu mereço esse casamento. Sofri muito, tive péssimas relações. Mas mereci o João. E consegui porque lutei. Não é uma maravilha?”.

FONTE : JORNAL DA TARDE
REPORTAGEM Patrícia Villalba

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